terça-feira, 16 de agosto de 2011

Coitada da pastoral familiar


Em agosto celebramos a Semana Nacional da Família. Hora de conversar, celebrar, orar pelas famílias. Neste ano, o convite é para refletir sobre o papel da família na sociedade. A Pastoral Familiar tem feito um trabalho muito bonito nesse sentido. Mas, às vezes, fico com pena dos seus agentes. É um desafio e tanto.
Além de todos os problemas que a família vem enfrentando, como dificuldade e fragilidade da relação, drogas, desemprego, crise de valores e tanto outros, a Pastoral ainda esbarra na visão limitada e fechada de muita gente (que age e legisla em nome) da Igreja.
Há alguns dias uma equipe da pastoral veio nos pedir orientação sobre como agir, por exemplo, em relação aos homossexuais. Qual a postura ante aqueles e aquelas que assumem a própria homossexualidade, que defendem a união estável, que desejam adotar filhos… Devemos aceitar? Podem comungar? Estão em pecado? E por aí vai…
Preocupa a muitos a postura da Igreja com relação aos métodos contraceptivos, a proibição da comunhão aos casais em segunda união, a postura com relação à fecundação assistida, ao uso das células tronco etc.
É, de fato, um terreno muito delicado, pois estamos lidando com pessoas, com vidas, com sentimentos. Qualquer descuido pode machucar muito, causar estragos. E o equilíbrio entre a defesa da vida, da instituição familiar e o bom senso, a misericórdia não é tão simples.
Dizia, então, para o pessoal da Pastoral Familiar que a homossexualidade não pode ser considerada como doença e nem como pecado. Pesquisas revelam que, mesmo entre os animais, cerca de 450 espécies têm práticas homossexuais. Nem a Organização Mundial de Saúde, nem a Psicologia, nem as pessoas de bom senso a consideram como patologia. É consequência de fatores biológicos, psíquicos, familiares, culturais, religiosos. Não é pecado ser ‘homo’, nem é virtude ser ‘hétero’. A questão está na maneira como se lida com a sexualidade, com a afetividade, com a relação.
Algumas pessoas que falam em nome da religião, para condenar a relação homossexual, usam como argumento o texto de Paulo em 1Cor 6,9-10. Mas é sempre necessário olhar o contexto. Em primeiro lugar, se vê que a lista é grande. Não herdarão o Reino de Deus: os injustos, fornicadores, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas (alguns traduzem como homossexuais, mas essa palavra surgiu bem mais recentemente), ladrões, avarentos, beberrões, caluniadores, exploradores… A palavra sodomita faz alusão a Sodoma, cidade que foi destruída, porque os homens de lá quiseram abusar dos visitantes homens, e não quiseram ficar com as mulheres. Mas tudo leva a crer que o pecado deles não foi tanto do homossexualismo, mas do abuso e da falta de acolhimento. Jesus faz alusão a isso em Mt 10,14-15. E, para Ele, o pior pecado é a intolerância e a dureza de coração. É não saber acolher e respeitar o outro.
Não é segredo que na própria hierarquia da Igreja sempre houve homossexuais. Entre as religiosas também. É natural. Outra coisa é a pedofilia, o mau uso do sexo, a irresponsabilidade. E, muitas vezes, o discurso moralista esconde a incapacidade de lidar com essas questões.
Um detalhe interessante é que vários dos chamados “casais gays” querem adotar filhos. Uma explicação para isso é que muitos são homossexuais por entender, consciente ou inconscientemente, que é melhor ‘cuidar’ do que ‘criar’. Por algum problema pessoal, ou por não ver perspectiva na humanidade, em vez de trazer uma criança para sofrer, preferem cuidar das que nasceram e não têm carinho. Normalmente, são mais cuidadores.
Não posso me alongar, pois o espaço é pequeno, e nem vou tocar em tantas outras questões que inquietam e nos deixam desorientados. Somente gostaria de lembrar que as pessoas são muito mais do que os rótulos que nelas colocamos. Ninguém é só homossexual, recasado, pai ou mãe solteira, divorciado. Cada um(a) é ser humano, é filho(a) de Deus, é irmã(o), e traz consigo uma série de valores e carências. Todos, sem distinção, merecem o mesmo respeito, o mesmo amor, o mesmo carinho. Se houver alguma exceção será em favor das que são discriminadas ou vítimas de preconceito, pois precisam de maior atenção. Assim foi a prática de Jesus. Assim deve agir a Igreja.

                                                                                        Padre José Antônio de Oliveira - Barbacena/MG

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