terça-feira, 28 de junho de 2011

Teologia e mística


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A teologia não supõe apenas um estudo sobre Deus, propõe uma experiência de Deus. A partir desta experiência, torna-se possível tecer um discurso sobre o mesmo. A experiência de Deus só é possível, porque primeiro Ele fez experiência do humano em Jesus, abrindo um canal de contato pleno entre o criador e a criatura. A experiência profunda do mistério é contemplada como mística, na qual o sujeito é arrebatado, por graça, a uma realidade puramente transcendental, mergulhada no mistério Deus, por Cristo, na ação do Espírito Santo. Sente-se atraído por uma presença que se impõe, gerando uma experiência a-conceitual de Deus. O místico centra-se totalmente no mistério, onde seu ato de fé se consuma.  
A teologia nasce da experiência de fé e nela se nutre. Possui em sua origem um elemento místico de perfil contemplativo e querigmático. Ignorar esta dimensão na reflexão teológica gera um intelectualismo esterilizante, obstruindo a sabedoria saborosa, afetiva, experiencial de Deus. Assim é importante haver entre teologia e mística uma intrínseca relação, que possibilite o mistério contemplado ser teorizado em categorias lógicas sem que se perca o conhecimento que o místico adquire da relação amorosa, o amor já é conhecimento.
Paralelamente a teologia serve de baliza para a experiência mística, oferendo um critério de discernimento à luz da revelação cristã e da fé eclesial. Diante destes pressupostos, a teologia adquire seu sentido último quando se curva diante do mistério, reconhecendo que a inteligência humana não pode abarcá-lo por completo. A visão teológica é sempre parcial e a posição do teólogo diante do mistério é genuflexa, reverente Àquele que é muito maior, o Inefável, onde o mais coerente é o silêncio e a contemplação.
  Deus é mistério eterno, e só quem se encontra totalmente imerso neste mistério pode fazer uma teologia autêntica. Este mistério é sempre convidativo a experiência, único meio pelo qual pode ser conhecido. O seu conhecimento se intensifica na experiência, mas não se esvazia, pois Deus se revela, mas não se desvela, é sempre mistério a ser experimentado, por vezes impossível de ser traduzido em palavras ou argumentos teológicos, abrange a totalidade do ser humano e a supera, não se permitindo ser manipulado, mas encontrado nas realidades do mundo. Por isso, o teólogo tem sempre que ter diante dos olhos, que de Deus pouco se pode falar, é mais objeto de experiência que de estudo.
A experiência de Deus vai do mistério ao mistério e o papel do teólogo com suas reflexões é o de possibilitar um diálogo experiencial com o mistério de Deus, visto que a experiência é o ponto fulcral do discurso teológico. O caminho teológico parte do mistério que se comunicou em verdade e amor e tende para o mesmo, pois, o conhecimento de Deus pelo mistério é mais pleno que pela razão, embora esta seja importante. A qualidade da teologia depende da experiência que se faz do transcendente, experiência esta que lança aquele que a fez para o mundo do transcendente, a ponto de suas atitudes nem sempre serem bem compreendidas por todos, por vezes nem mesmo pela instituição que fala em nome de Deus.
A teologia é a evangelização da inteligência que quer saber quem é o Outro que convida a ser conhecido. É experiência de doação; oriunda do Pai que se deu a nós naquele que lhe é mais querido, o Filho, fazendo da existência cristã, na dinâmica do Espírito Santo, um encontro do humano com a Trindade. Onde o Pai é totalmente autodoação no Filho a nós. Essa doação cria comunhão entre o humano e as pessoas divinas gerando uma divinização que explicita uma radical humanização, estabelecendo uma relação de unidade-comunhão-presença e não uma conceituação do dado religioso.  
Matias José Pereira
4º ano de teologia

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